segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Investigando o Algarve Profundo - Luís Fraga da Silva
Descrição sumária (Texto da contracapa)
Este ensaio de geografia histórica descreve o espaço rural de São Brás de Alportel e do Algarve Central, durante o período romano.
É uma síntese interpretativa de nível intermédio, entre as monografias especializadas e as obras de divulgação didáctica, destinada a pessoas diferenciadas e curiosas da história local mas não obrigatoriamente especializadas nos temas tratados.
Aborda selectivamente os principais temas da história política, sócio-económica e religiosa que tiveram relevância no mundo rural da região durante a Antiguidade e os que participaram na transformação dos elementos herdados do mundo romano ao longo do período islâmico, tendo sobrevivido até à época contemporânea.
Procura integrar os sítios arqueológicos conhecidos com a geografia e os nomes dos lugares, tentando associar a sua evolução a esses períodos históricos.
Foca-se na integração do Algarve romano com a Serra e o interior da Lusitânia. Nesse sentido apresenta, em anexo, uma reconstituição cartográfica inédita da ocupação romana do Sul do actual território português.
Apesar das grandes limitações existentes no conhecimento histórico e territorial, o texto descreve uma visão esclarecedora tanto do registo arqueológico local como duma parte importante da história social e económica da região.
PREFÁCIO
A memória dos lugares e a memória das pedras sobrevivem mais longamente à passagem do tempo do que a memória dos Homens. É isso que observamos neste trabalho interessantíssimo de Luís Fraga da Silva, geógrafo/historiador, que, através de uma persistente investigação histórica conjugada com a toponímia e a geografia humana, misturadas com a sua percepção política e economicista, nos ajuda a recuperar essa memória perdida, esses caminhos há muito pisados e percorridos, passando por terras ainda vivas, outras completamente mortas, outras cujo sentido se perdeu.
As passagens naturais por terra, possíveis, do Algarve para o norte, foram
sempre escassas e perfeitamente delimitadas, daí o secular isolamento do
Algarve especialmente em tempos modernos. Pelo mar era tudo mais fácil.
Portanto elas vão, naturalmente, caindo em desuso e as populações que sedesenvolveram à custa desse movimento constante vão, elas também, morrendo aos poucos ou desaparecendo da memória dos homens. A sua funcionalidade ocasional perdeu-se, mesmo aquela mais profunda associada à sacralidade do lugar, a que os Cristãos, na sua ânsia de forçar as populações a esquecer o seu passado religioso, alteraram o cariz. Ficaram os nomes por que eram conhecidas, as ruínas abandonadas, os caminhos desolados.
Ajudado pela toponímia, pela lógica determinante das acções e comportamento humanos, Luís Fraga da Silva vai, a pouco e pouco, desvendando esses hábitos perdidos, qual Sherlock Holmes com a sua lupa distinguindo vestígios indicadores de actos passados. A sua preocupação não se limita apenas àqueles vestígios de populações mais recentes, procura distinguir o que restou do passado pré-Romano, dos lugares de culto aqui existentes, da impressão que montes como o Monte do Figo, o Cerro de S. Miguel necessariamente causaram nas populações do Algarve ou que para aqui se deslocavam, a que poderemos juntar a Serra de Monchique, mas esta localizada já fora do âmbito deste trabalho. Não esquece de salientar os aspectos económico- administrativos, que ao longo de séculos foram alterando a importância. dos sítios e dos lugares e o crescimento ou a decadência das cidades que tiveram alguma importância local. Os períodos Romano, Visigótico e Islâmico
são cuidadosamente escrutinados, não esquecendo de referir o impacto
da Antiguidade Tardia e a confusão estabelecida. Podemos imaginar as perturbações causadas nas populações do Algarve pelos cultos orientais que chegaram à Península através do Norte de África, em que predominaram os Bizantinos ortodoxos e o Cristianismo inflexível, que se impôs brutalmente em todo o lado, exigindo unicamente a aceitação dos ritos aprovados pelos diversos concílios da Igreja. À ocupação visigótica, marcadamente incerta pelas próprias características do reino visigótico, sucedeu-se a islâmica, que, apesar de Árabes e Berberes se terem estabelecido aqui durante 550 anos, quase tanto tempo quanto os Romanos, tem sido teimosamente esquecida.
As transformações implantadas por estes movimentos de povos e suas
características e necessidades reflectem-se também no crescimento das terras e das gentes, nos caminhos e nos acessos preferidos, não totalmente esquecidos e ainda válidos em momentos de fuga ou de perseguição mais recentes ou mesmo actuais.
Tudo isto encontramos no trabalho de Luís Fraga da Silva, obra indispensável para todos os historiadores e políticos interessados nas razões dos comportamentos humanos, na evolução da comunicação entre os povos, nos ransportes de pessoas e géneros, na evolução das terras ou da sua decadência e muito especialmente para os investigadores do Algarve profundo.
Teresa Júdice Gamito
Catedrática de História e Arqueologia
Universidade do Algarve
mais informação em:
http://imprompto.blogspot.pt/2013/01/sao-bras-de-alportel-na-antiguidade-11.html
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