sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Bartolomeu XXI - texto do catálogo

TOO LATE
Estávamos em Outubro quando se lhe apresentou o convite.
A ideia era produzir uma alargada mostra de obras realizadas neste século em Tavira, com diferentes suportes, na sua maior parte ainda inéditas.
A proposta foi acolhida com o calor habitual. A única condição que então nos colocou foi a escolha do comissário, o seu velho amigo e colega da Slade o escultor John Aiken que uma vez consultado de imediato aceitou o encargo.
O projecto Bartolomeu XXI começou logo então a ganhar forma.
Novos trabalhos foram sendo concebidos, outros finalizados e alguns outros profundamente alterados.
Sem descanso, logo que chegava a Tavira trabalhava com grande empenho, pela noite fora. Era com entusiasmo que nos ia mostrando as novas obras e dando delicadamente indicações de como gostaria de ver organizada a exposição, concebido e difundido o catalogo.
Com a declaração da doença o ritmo não abrandou empregando-se com redobrado afinco à medida que as idas a Londres se tornavam mais frequentes Entre as suas ultimas obras encontram-se, surpreendentemente, quatro auto retratos a “ponta seca”, como se procurasse deixar para a eternidade gravado no cobre que tão bem dominou a sua derradeira imagem.
Sem nunca o ter verbalizado, revelando grande coragem e dignidade estava seguramente consciente de que o seu tempo se aproximava inexoravelmente do fim e que organizava metodicamente a sua primeira exposição póstuma.
Após 21 de Maio nada ficou igual.
Desaparecido o Homem havia que levar a bom termo a tarefa respeitando o projecto inicial.
Com John Aiken no comando, ouvidos os que o acompanharam nos últimos meses , Miguel, Valter, Manuel Augusto, Fernanda, procuramos concretizar seus desejos como se ainda fosse possível partilharmos uma ultima festa.
Demasiado tarde.

Tavira, Julho de 2008

José Delgado Martins

1 comentário:

Jeremias Sarte disse...

Exposição surpreendente, esta de Bartolomeu dos Santos, bem como as anteriores de fotografia. Tavira continua a organizar um excelente e educativo programa de verão. Noto, no entanto, perplexo, que a exposição de Pedro Cabrita Reis - também surpreendente - não está incluída no programa apresentado no site da Casa das Artes.