O artista mistura-se para sempre com as águas do rio Gilão
Obras inéditas realizadas em Tavira podem ser vistas na Casa das Artes
No dia 2 de Agosto Tavira despede-se e integra Bartolomeu dos Santos para sempre nos seus elementos. Respeitando o desejo do artista plástico que marcou os caminhos da gravura, as suas cinzas irão ser atiradas ao Rio Gilão.
Bartolomeu Cid dos Santos nasceu em Lisboa no dia 24 de Agosto de 1931, estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, continuou os estudos com Anthony Gross, na Slade School of Fine Art em Londres, onde veio a leccionar no Departamento de Gravura. Foi professor visitante na Universidade de Winsconsin, National College of Art em Lahore, Umea Konstskolan na Suécia, na Academia das Artes em Macau e Professor Emeritus da Universidade de Londres. Foi ainda membro da Royal Society of PainterPrintmakers e Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Realizou mais de 80 exposições individuais na Europa, Estados Unidos, Brasil e Extremo Oriente. É autor de intervenções de arte pública em cidades de vários países.
Em Tavira, cumpriu o serviço militar e ficou apaixonado pela cidade. Mais tarde aqui criou um Centro/ Atelier de Gravura com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Associação da Casa das Artes. Realizou nesta cidade, entre outros, um workshop internacional integrado no programa Caleidoscópio.
Foi membro da Comissão Municipal de Arte da Câmara de Tavira e recebeu a Medalha de Mérito Municipal. Doou grande parte do seu espólio a esta cidade para que seja criado um Centro de Desenho e Gravura. Nos últimos anos a sua vida decorria entre Londres, Sintra e Tavira.
Faleceu no dia 21 de Maio do corrente ano na sua casa em Londres, cidade onde o seu corpo foi cremado. De acordo com o seu desejo, as suas cinzas serão lançadas ao rio Gilão no próximo sábado.
A cerimónia inicia-se às 11 horas no Salão Nobre dos Paços do Concelho onde lhe será prestada uma última homenagem. Espera-se que do grande universo de amigos do artista, muitos venham partilhar este instante que marca uma espécie de adeus, impregnado dessa vida que Bartolomeu dos Santos tão natural e espontaneamente semeava nos seus ensinamentos, na sua obra e nas mentes e corações dos que com ele tiveram o privilégio de partilhar ideias.
Pelas 17 e 50, irá acontecer música de cravo interpretada por Luís Conceição precedendo a saída das cinzas dos Paços do Concelho em direcção à Ponte Romana. Aí, vão ser proferidas algumas palavras por José Delgado Martins, Macário Correia e Filipa dos Santos, filha do artista.
A seguir terá lugar o lançamento das cinzas ao rio Gilão. A sua ligação indissolúvel à terra que escolheu. Unir-se, misturar-se com esta cidade no seu elemento mais primordial, que a caracteriza, atravessando-a, dividindo-a, re-ligando-a, indicando-lhe contornos e directrizes. Bartolomeu quis unir-se às águas de Tavira no seu perpétuo movimento que em determinada parte do devir se chamam rio Gilão. “Barto” decidiu ser elas, ir com elas, nelas, e sendo elas, misturar-se nas plenas águas dos oceanos…
Às 18 e 30 será o momento do descerramento de Placa Toponímica "Escadinhas Prof. Bartolomeu Cid dos Santos", as antigas escadinhas do Alto de Santa Ana.
Às 19 horas, na Casa das Artes de Tavira, terá lugar a inauguração da primeira exposição póstuma. Uma mostra de grande parte da obra de Bartolomeu dos Santos, ainda inédita, realizada em Tavira. A programação desta exposição ocorreu em Outubro passado com o contributo de Bartolomeu que convidou John Aiken, director da Slade School of Fine Art de Londres, para a comissariar.
Para mais informações sobre o artista e o evento pode consultar www.acasadasartes.blogspot.com.
Paula Ferro in Postal do Algarve, 2008.07.31
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